Dúvidas, a cirurgia bariátrica e o acompanhamento psicológico

- O acompanhamento psicológico é fundamental para os pacientes que passaram por uma cirurgia bariátrica? 

Primeiramente é importante diferenciar o que é acompanhamento psicológico e o que é avaliação psicológica. O acompanhamento é caracterizado pela psicoterapia, processo conduz ao autoconhecimento, (re)descubre em si condições para desconstruir comportamentos que geravam sofrimento, podendo ocorrer a curto ou longo prazo; já a avaliação psicológica é um exame de caráter compreensivo, em que o paciente responde questões específicas para se submeter a avaliação de seu funcionamento psíquico, sendo que, em ambas as atuações correspondem à prática clínica do psicólogo.  

Com a avaliação psicológica inicial, verifica-se a necessidade do paciente ser acompanhado. O paciente que se candidata a uma intervenção cirúrgica como a cirurgia bariátrica, por exemplo, estará implicado a uma avaliação psicológica, pois há critérios a serem seguidos e respeitados. No pós-cirúrgico recomenda-se a psicoterapia para a modificação dos hábitos alimentares.


-A necessidade desse acompanhamento é maior entre os adolescentes? 

Cabe ressaltar que a cirurgia bariátrica é um procedimento invasivo, com restrições significativas para o sujeito não apenas de ordem orgânica, mas também social e psicológica, por isso, nem todas as pessoas têm o perfil psicológico para a realização deste procedimento, a ser considerado como última opção para o tratamento da obesidade e de tantas outras doenças e ela associadas. Muitos são os pacientes que têm uma visão deturpada sobre a cirurgia bariátrica, encaram o procedimento como algo milagroso... porém, se não houver a mudança de comportamentos diante dos hábitos alimentares muitos voltam a engordar e a recuperar todo o peso de antes, por exemplo.

Antes de se pensar na cirurgia bariátrica, conforme a portaria do Ministério da Saúde de nº 492, de 31 de agosto de 2007 é necessário atentar há outros meios de tratamento, sendo critério a evidência de insucesso no tratamento clínico realizado há, pelo menos, dois anos com profissionais da saúde, dentre eles educadores físicos, nutricionistas, endócrinos, clínico, psicólogos e outros. Dentre outros critérios mencionados pela portaria.

Com as modificações do Ministério da saúde os adolescentes passam a ter a cirurgia bariátrica como uma opção de tratamento. O que requer um cuidado ainda maior para todos os profissionais que atuam com a avaliações da cirurgia bariátrica, buscar por profissionais com conhecimento científico específico e especializados torna o processo mais simples e seguro, principalmente, tratando do público adolescente.


-Você é contra ou a favor da cirurgia bariátrica para menores de 18 anos?

Cada caso é um caso, há de ser levado em consideração: as tentativas anteriores para o emagrecimento; dialogar com os profissionais de saúde que realizaram os acompanhamentos prévios, período, frequência, recaídas, abandono dentre outros; apoio e relacionamento familiar... Enfim, cabe destacar, por exemplo, que a fase da adolescência é um período turbulento para muitos, em que é fundamental a verificação de transtornos alimentares presentes, distúrbio de auto imagem, utilização de substâncias como drogas e outras compulsões, que se não tratadas e priorizadas antes da cirurgia bariátrica, podem levar a uma série de complicações... por isso a avaliação psicológica é tão importante para todos os candidatos à cirurgia bariátrica e não apenas para os adolescentes.


- Como a cirurgia pode afetar a vida do jovem?

Alguns estudos científicos apontam que as células de gordura parecem aumentar em número até o início da adolescência. Não há um consenso na comunidade científica quanto a recuperação, o reganho de peso e outros efeitos da cirurgia bariátrica a longo prazo, quando estes pacientes estiverem na terceira década de vida, por exemplo, bem como as consequências desconhecidas na maturação neuroendócrina e psicossocial.


- Você considera a cirurgia uma forma de evitar bullying nessa fase da adolescência?

O bullying é o assédio moral que ocorre no contexto escolar na vida de uma pessoa. Assim, não há como garantir que ele possa ocorrer ou não em função da realização da cirurgia, por exemplo, o assédio moral, em geral, é reforçado no agressor em função do comportamento da vítima que sofre a violência.


- Já ouvi relatos de pessoas que passaram pelo procedimento e acabaram ficando bulímicas. Isso é comum? 

Não é comum, por isso é importante que as pessoas busquem avaliação psicológica de um profissional especializado no assunto.


- A procura de jovens pela cirurgia tem aumentado?

Por enquanto não, creio que a cautela, bem como a prioridade em explorar outras possibilidades de tratamento menos invasivos seja a opção preferida dos pais.



Matéria fornecida ao jornal "expresso popular" em 29/11/12.

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